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#17 Somos todas sádicas.

  • Foto do escritor: Roberta Fauth
    Roberta Fauth
  • 7 de mar.
  • 7 min de leitura


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Essa história ficará ainda mais envolvente se for lida enquanto ouve este som aqui: https://open.spotify.com/intl-pt/track/3JsA2sWDNR9oQogGAzqqtH?si=afbcafbfb5f34e94


Ele não mora em São Paulo. Isso atrapalha um pouco. Ele me provoca, é seguro e questionador. Já expliquei que a minha dominância não envolve práticas de dor física, ele finge que não entende. E me desafia. E diz que vai acordar o meu lado sádico, simplesmente porque sabe que ele existe dentro de mim. É atento. Essa é uma característica comum aos homens desse rolê BDSM com quem estive. Todos estão atentos ao que veem, ouvem e sentem. É uma dança mágica, ele veio pra mim num momento em que eu decidi testar as coisas de uma forma calma, articulada e principalmente, com método. "O meu corpo é um templo pronto para toda sorte de abusos que você for capaz de pensar". Eu vou deixando que ele fale. Eu insisto, faço questão de ouvir tudo que ele tem pra me dizer, me contar, me convencer. Talvez ele ainda não tenha sacado, mas o estou treinando. Eu digo que ele deve me convencer. Digo pra ele se ajoelhar, pedir e implorar. Sou a sua deusa mundana e ele é meu humilde adorador. Precisou de algumas semanas pra ele realizar que eu vou fazer com ele o que eu bem entender, e ainda hoje ele vem cheio de desejos. Eu retruco: você quer o que eu digo que você quer. Você sabe o que eu quiser que você saiba. As suas vontades são limitadas e cercadas pela minha vontade, nada mais. Explico que a minha criatividade é diretamente proporcional à devoção que ele demonstrar, que eu sou uma ventania, um ciclone extratropical. Que estamos os dois bem no meio do vórtice dessa tempestade, e que estamos apenas começando.


Claramente, ele quer ser atendido em seus desejos. Mas não só isso, ele também deseja ser surpreendido, quer validar as desconfianças que tem a meu respeito. Não posso dizer que não gosto disso. Estamos jogando um contra (e a favor também) o outro e estamos, ambos conquistando território. Ele joga muito bem, percebo que tem ali uma profundidade misteriosa. Ele me dá muitas informações e ainda assim, consegue manter o seu mistério. É um cara simples, mas sabe que possui qualidades interessantes. É um homem moreno, alto. Um perigo. O nosso primeiro encontro teve duas tentativas. A primeira, frustrada por compromissos profissionais, só fez aumentar a tensão que já estava difícil. Por outro lado, foi um teste interessante para eu perceber que sou capaz de manter a energia assim "high" por mais tempo. A segunda tentativa foi frustrada por problemas de saúde. Seria o universo tentando me mostrar que eu não devo investir mais energia aqui? Ignorando completamente a minha intuição, organizei as minhas coisas pra tirar uns dias de férias, reservei uma acomodação pra mim na praia, pertinho dele. Peguei o meu carro no meio de uma semana qualquer pra ir tomar um banho salgado e conferir por mim mesma se o investimento vale à pena ou se eu de fato, obcecada, estou ficando maluca.


Combinamos que ele ia se comportar como se eu estivesse na minha casa. Deixei a porta aberta, dei instruções sobre isso. Ele chegou, duas batidas, girou a maçaneta. Ele estava meio ofegante. Olhinho brilhando. Não me movi. Estava sentada no sofá, lendo. Fechei o livro, olhei pra ele muito tranquila. "Que mulher maravilhosa". "A minha deusa é a mais bonita!". Ofereci uma bebida, uma conversa baunilha. Não fui capaz de não permitir nenhum tipo de contato físico além de olhares que diziam mais do que as palavras. Eu deixei que ele me cumprimentasse com um beijo bem gostoso. Conversamos um pouco. Perguntei a ele se estava nervoso. "Muito", disse enquanto verificava o tamanho da mão dele em relação à minha. Uma troca mais íntima de olhares foi a deixa que eu precisava, iniciei um diálogo que preparei especialmente para ele:

-- "De joelhos, aqui". E ele se ajoelhou na minha frente. "Você sabe que é minha posse, não sabe?"

-- "Sim, Deusa".

-- "Você está aqui porque é a minha posse, não está?"

-- "Sim, minha Rainha".

-- "E você está aqui porque gosta de se sentir possuído por alguém e gosta de receber práticas, não gosta?"

-- "Sim, eu gosto, Rainha. Faça o que quiser comigo"

-- "E como o homem inteligente que você é, você sabe fazer as suas escolhas de forma coerente. Você sabe que está se submetendo à melhor dominadora, não sabe?"

-- "Sim, minha Rainha. O meu prazer é o seu sadismo".

E com essa última resposta ele me pegou. Ainda assim, eu que não me entrego fácil, engoli a onda de excitação que percorreu o meu corpo e segui o meu plano de sessão. Me abaixei em direção a ele, acariciei muito gentil os seus cabelos ondulados, e com o cabo da chibata elevei o seu rosto pra me olhar nos olhos. "Então vamos começar a brincar".

Me encostei atrás dele, de maneira que massageei suas têmporas, sua cabeça, e fui descendo pelo pescoço, sentindo o corpo dele relaxar e se arrepiar com esse movimento. Me abaixei até a altura do rosto dele, o beijei lenta e profundamente. E aqui quem pegou ele fui eu. Tirei do bolso um colar rabo de cobra dourado, que combinou perfeitamente com a pele dourada de caiçara que ele tem. Sorri. Ordenei que tirasse a camisa, e que permanecesse no chão, de joelhos. Avisei que enquanto esse colar estivesse ali, ele deveria se manter subserviente, dócil, manso, passivo e humilde. Dei a ele duas palavras, uma para reduzir o ritmo, uma para parar o jogo.

Com a cabeça, ele fez que entendeu.


Levei esse grande pedaço de homem para o quarto, de quatro, puxando com alguma suaviddae pelos seus cabelos. Ordenei que sentasse de maneira confortável na cama. Vendei seus olhos, amarrei seus braços bem ecostadinhos no seu tronco. Fui puxando essa amarração para a perna e finalizei num futomomo. Simples, belo, imóvel. Todas as ferramentas que eu trouxe para provocar sua pele e seus sentidos foram usadas. Eu fiquei por trás dele, explorando o seu corpo, sua respiração, seu ritmo. Ele falava sobre me ouvir respirando, me sentir sorrindo. Ele não via nada, e ainda estava atento e com a minha imagem na sua tela mental. Quando desfiz essa amarração, tornei a próxima um pouco desconfortável, mas ele não reclamava. Eu acho que mentiu, quando perguntei se estava tudo bem. Tirei a sua venda, mantive um futomomo, os punhos dele estavam amarrados em algema e lancei-os para trás da cabeça. Pra isso ficar firme, friccionei e tensionei no abdomen. Fiz com que ele me assistisse tirando a roupa devagar, com a nossa playlist tocando, e ele via, se esforçava pra não piscar, completamente imóvel. Nua, cheguei mais perto pra que ele sentisse meu cheiro e calor. Depois empurrei sem muita delicadeza o seu tronco, de forma que a partir daí, ele não tinha nenhuma posição confortável possível, e ainda assim, repetia que estava experimentando um pouco do paraíso.


Eu não tinha ideia se ele estava mentindo apenas pra me contrariar - ele já tinha feito outras bratices* antes - ou se estava anestesiado por tudo. Ele parecia anestesiado, se eu pensar melhor. Ele repetia o tempo todo, o quanto esperava por esse momento, o quanto o meu cheiro afetava seus sentidos, como estava pronto pra ser o meu brinquedo. Ele entendeu que eu, sendo a sua deusa mundana, poderia atender aos seus desejos se eles fossem pedidos, suplicados e implorados. então ele pedia pelas minhas mordidas, pelos meus apertões e por exploração livre do seu corpo enquanto ele estava vulnerável e amarrado. Cada vez que eu mordia com força, recebia seus gemidos de excitação. Pra mim, isso chegava como uma pequena vitória e uma onda quente que me trazia cada vez mais pro momento presente. Em nenhum momento ele pediu para reduzir, tampouco parar. Pedia mais, muito mais. Durante um tempo, fiquei mais aberta aos meus reflexos e percebi como o deleite dele com as minhas pequenas torturas era gostoso pra mim. E pensei comigo que sim, ele tinha acordado a minha porção sádica, que estava se divertindo e gostando de torturá-lo provocando muita excitação e negando um orgasmo em sequência (prática de tease and denial), que estava hipnotizada trazendo sensações prazerosas através da dor das minhas mordidas e arranhões por todo o seu corpo.


Nessa primeira noite, fiz tudo o que julguei interessante e necessário para conhecer os reflexos do corpo dele, e só eu gozei. Ele chegou várias vezes muito perto, e a cada orgasmo negado, ele dizia ainda mais palavras de adoração e súplica. Ele não ficou envergonhado em demonstrar como ficou decepcionado quando desamarrei completamente e mandei se vestir pra sairmos jantar. Achou que teria alguma posse sobre o meu corpo e isso foi absolutamente rechaçado enquanto possibilidade. Ele fez que tiraria o colar, não permiti: "Ainda quero a sua porção servo durante o jantar". Fomos a um restaurante perto da praia, ele perguntava insistente por que não deixei que ele chegar ao final. Pelas minhas ordens, estava já há uma semana sem poder chegar a esse lugar. Me olhava com carinha de pidão, e entoava suas rezas de adoração. A cada frase de súplica, ele ganhava uma de afirmação: "bom garoto"; "é assim que você vai conseguir o que deseja. Não pare". De volta ao apartamento, eu retirei o colar do seu pescoço. Então vi esse homem se transformar pela compreensão de que estava "livre" da personagem em que atuara até então. Nos abraçamos por algum tempo, e ele teve todas as suas orações atendidas e todos os seus desejos satisfeitos enquanto a madrugada já era presente e a maresia com cheiro salgado invadia o quarto pela sacada. "Estou apaixonado".


Ainda agora, essas palavras tem um impacto sobre mim. Eu gosto e troco muito afeto e carinho, eu não sou uma pedra de gelo. Não sei como vou lidar com um submisso apaixonado, não sei como ou se vou vivenciar o amor dentro dessas dinâmicas, não sei se vou me abrir pra receber o amor dessas pessoas. Não sei como vou evitar me apaixonar quando um deles me tocar tão profundamente. Não sei como vou evitar machucar os sentimentos de alguém a quem eu não esteja disposta a corresponder. Sim, a comunicação precisa ser aberta, direta e clara. Eu tenho mantido esse canal dessa maneira. Mas ainda preciso elaborar essas questões, porque não são rasas e não tenho essas respostas. Por enquanto o que sei é que sim, o investimento valeu à pena. Sim, eu estava maluca ao ignorar a minha intuição - os subs precisam chegar a um lugar de saberem com certeza o que querem e o que podem esperar da interação com uma gentle domme. E, para além disso, sim. Eu tenho uma porção bastante generosa de sadismo, para a felicidade dos masoquistas que cruzam o meu caminho.

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*Brat é um tipo de submisso insurgente. Ele questiona e confronta o seu dominante, apenas por provocação. Bratice é o que o Brat faz!

*Gentle Domme é um tipo de função feminina dentro do BDSM onde se domina através da gentileza ao explorar os caminhos de dor/prazer das pessoas submissas.


Eu sou Lilith Sem Roteiros e vou compartilhar com vocês as minhas experiências, reflexões, encontros e descobertas nas minhas aventuras amorosas fluidas.

 
 
 

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