top of page
Buscar

#4 Lilith Sem Roteiros. Quando o Prazer é se Perder e se Encontrar

  • Foto do escritor: Roberta Fauth
    Roberta Fauth
  • 5 de nov. de 2024
  • 4 min de leitura

Atualizado: 13 de jan.



ree

Essa história fica ainda mais envolvente se for lida ao som dessa música aqui: https://open.spotify.com/intl-pt/track/6usohdchdzW9oML7VC4Uhk?si=fd7ade9708b74b39


Uma amiga querida uma vez me disse, a vida é uma adega: há muito vinho para provar!

Nesse ano, eu trouxe essa máxima para a minha vida com a força da ressaca do mar no inverno. Experimentei o primeiro toque como quem, ao abrir uma garrafa de vinho, se permite sentir o aroma antes de provar o gosto. Estou com 42 anos, sinto que só comecei a viver agora. Não imaginava que seria capaz de dizer, sem medo de errar, que tenho fome e gosto de ser alimentada. Resolvi explorar e experimentar o fascinante mundo do BDSM no meu tempo, com meu espaço, recebendo toda sorte de estímulos, ouvindo os meus sons, abraçando as minhas trevas. Montei a minha mesa, e tenho uma ideia de poder ser uma ceia farta pra quem quer que se aproxime. O mundo do BDSM não é um território familiar. Cheio de complexidades, estéticas e uma liturgia a ser seguida, e eu, apesar de curiosa, quero fazer o meu próprio caminho. Por isso me repito: eu não tenho roteiro. A minha sexualidade nunca foi convencional, esse é um fato que dou a vocês. Por outro lado, eu nunca pensei em colocá-la em uma caixinha ou dar um nome para as coisas que me acendem; percebi, com o passar do tempo, que a rotina me estraga bastante, tanto para as pessoas do meu convívio quanto para mim mesma. Esse flerte estranho começou de maneira inesperada. Entre conversas banais e mensagens trocadas, vieram as sugestões: sussurros que me convidavam a explorar um lado desconhecido, cujas perguntas estavam todas sem respostas. Eu nunca pensei em mim como uma pessoa submissa, por exemplo. No meu íntimo, o verdadeiro poder residia no ato de guiar a experiência e isso me fazia salivar pelo controle sobre o outro e sobre mim mesma. Mas as coisas não são assim tão simples...


Em um raio de 12 meses, encontrei meia dúzia de homens dominadores. Encontrei mais de uma dúzia de homens submissos. O curioso nisso tudo foi perceber como meu corpo respondeu de maneira bastante confortável a todos eles. O próprio reino fetichista me chamou "Switcher*", mas hoje compreendo que a minha primeira experiência foi com a submissão. É interessante porque nessa ocasião eu hesitei, eu cheguei a manifestar de maneira clara e verbal: "eu não sou uma submissa". Mas é óbvio que era, é óbvio que sou. Estar nesse lugar, ao contrário do que muitos pensam, envolve um nível elevado de liberdade, leveza e confiança. Enquanto submissa, você pesquisa o potencial do seu Dom**, recebe um cortejo envolvente, persuasivo e magnético. Você se vê numa dança sedutora, irresistível e se deixa levar ao exato ponto em que, de forma totalmente consciente e presente, escolhe, pede e, não raro, implora pela condução. A entrega nunca é parcial nesse universo.


O que me impressiona é o jogo de observar, de sentir e de então saber o momento em que eu estou absolutamente relaxada sob um comando externo, um sinal de uma confiança tamanha, que não existe outra opção a não ser aceitar a entrega. Um deles, uma vez tentou me explicar o lado de quem observa de fora: "é como um sabor de vitória que se derrete na língua, nos conecta e, ironicamente, também me faz sentir seguro". Dessa meia dúzia de Dominadores, apenas em duas ocasiões, contudo, foi que eu tive uma experiência de superlativa entrega e abertura diferente de tudo que já experimentei. Esses caras tiveram, cada um no seu modo, a audácia e o poder de me levarem a um lugar novo de radiância, de ausência de som, onde a minha respiração descompassou do ritmo, onde me senti perdida de mim, sem saber onde eu começo ou onde termino, liquefazendo e transbordando sensações na superfície da pele e nas entranhas profundas. Eles conseguiram de mim uma conexão tamanha, que eu me senti fundindo com eles. Eles me levaram a esse lugar, me deixaram explorar livre essa novidade e depois me trouxeram de volta, como seres divinos. Que resultado pode ser mais apaixonante?


Assim, antes dos meus banquetes, há sempre uma introdução que possui dias e nenhuma pressa. Eu preciso saber se estou lidando com um dominador ou alguém em busca de condução. Nesses dias, eu sirvo algo entre o picante e o amargo, prestando atenção aos sinais que podem me levar a essa busca insana por experienciar essas sensações novamente. Já me peguei pensando se me comporto como uma adicta. E a resposta é sempre a mais honesta possível: "é bem provável que sim". E eu continuo. A minha única certeza depois de todo esse tempo, é que a submissão é a minha preferência dominante (irônico, não?), e é o que eu desejo explorar com mais avidez. Eu ainda vou contar a vocês como a experiência do polo dominante me tocou, mas enquanto isso, trago as nuances de ser um festim repleto de prazeres sensoriais para quem quer que se aproxime. E de alguma forma que eu não sei explicar, eu confio que na minha direção está alguém (ou alguéns) que busca exatamente o mesmo tipo de interação que eu, de se abrir, de explorar, se deixar levar pelo tempo presente e mergulhar nas possibilidades que permitirmos oferecer um ao outro.


---

Eu sou Lilith Sem Roteiros e vou compartilhar com vocês as minhas experiências, reflexões, encontros e descobertas nas minhas aventuras amorosas fluidas.


*Switcher é uma pessoa que transita entre os dois papéis do BDSM: em um momento você é o dominador, em outro é o dominado.

**Dom é o diminutivo de Dominador. Alguns ainda usam a palavra "Dono". Dom para homens dominadores, Domme para mulheres dominadoras.

 
 
 

Comentários


bottom of page