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#6 A Armadilha da Exclusividade tem um Rosto Maduro

  • Foto do escritor: Roberta Fauth
    Roberta Fauth
  • 11 de nov. de 2024
  • 6 min de leitura

Atualizado: 18 de nov. de 2024



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Essa história fica ainda mais envolvente se lida ao som dessa música aqui: https://open.spotify.com/intl-pt/track/63unbqIhisEtKnNR2IbM4Y?si=3ca5369d3b5d4511


Nem sempre as coisas vão sair do jeito que a gente quer. Eu tenho preferência por homens mais jovens. Estabeleci um range entre 25 e 35 anos. Aqui, 24 é novinho demais, 36 passou do ponto. Mas as exceções acontecem... achei esse cara no meu aplicativo preferido, ele tem a minha idade, um jeito descontraído, corpo em dia. Claramente sabe que é bonito e cuida pra que o impacto da imagem dele seja desconcertante. Me conectei com ele porque achei a descrição que ele colocou na bio tão deliciosamente despretensiosa e simples. Como um cara assim tão vaidoso pode ser tão simples? Eu assumi que podia ignorar o fato de esse senhorzinho já estar longe do meu teto. Ele iniciou a conversa com um dos ganchos que eu deixo na minha descrição. Porque, se a bio dele é simples, bem, a minha é cheia de armadilhas. Ele se mostrou mesmo muito espontâneo. Para ele, me vesti com a mesma honestidade que uso com os homens mais novos. Em D+0, ele já sabia muitas das minhas preferências e se mostrava muito interessado.


Interessado até demais! Ele respondia muito bem à forma como eu me comunicava. Se mostrou inteligente, sagaz... Eu entendi que não precisava levar muitos dias tentando sentir qual era a dele: estava diante de um homem que sabe como tratar uma mulher, é direto, aberto, autêntico. Demonstrou compreender os meus conceitos de liberdade e não monogamia, queria saber detalhes. Estava me fazendo falar. Foi um tipo de conexão rara e muito gostosa. Pra mim isso tudo era a combinação perfeita pra uma festa privada. Encontramos uma brecha na nossa agenda no meio da semana, e combinamos de sair para jantar. "Aonde eu te pego?" - "Por mim, você me pega já dento do seu carro", pensei. Ele veio me buscar no escritório. Quando entrei no carro dele, ficamos só nos olhando por alguns segundos até que eu tive a iniciativa de me inclinar para ele, que respondeu com um beijo intenso e despreocupado. Estremeci com essa demonstração de segurança.


Nas horas que se seguiram, ele não só já sabia da maioria das minhas preferências, como sabia o mais importante da minha história. E se mostrava cada vez mais interessado pelos detalhes que outros deixaram passar. Ele me disse que tudo, desde que nos conectamos até aquele momento, instigava nele uma curiosidade irresistível. E assim ele me alugou um triplex na sua cabeça, mas apesar disso não parecia estar desconfortável ou amedrontado. Ao contrário, estava cada vez mais à vontade para ser tão direto comigo quanto eu era com ele: "E quando e onde eu vou descobrir os caminhos do seu corpo?". Depois das horas que passaram voando nesse jantar, eu não precisava de nenhum minuto a mais: "hoje, na minha casa".


Para quem me conhece bem, eu vivo dizendo por aí que prefiro os homens mais jovens porque eles me entregam a energia que eu preciso pra me saciar da vida. Acho que os caras da minha idade já estão cansados e preguiçosos. Os novinhos, por outro lado, tem sede de experiências, buscam repertório. Este senhorzinho, por sua vez, não só entregou grande estoque de energia como se mostrou potencialmente perigoso aos meus conceitos e estilo de vida. E não estou aqui falando apenas de como ele se comportou na cama. Essa não foi uma relação D/S e esteve muito longe de qualquer coisa relacionada ao BDSM. É um cara baunilha muito muito interessante. Eu tenho por hábito, depois de saborear os banquetes das minhas companhias, convidá-los a irem para as suas casas. Eu não sei mais dormir com alguém, entende? Mas este cara foi ficando. E eu deixei, de forma consciente. Primeiro, porque não dormimos. Segundo, porque eu não queria que parasse.


Quando o sol começou a aparecer pela fresta do blackout na manhã de sexta, estávamos fazendo planos para logo mais à noite. E também para o dia seguinte. E pra semana seguinte também. Ele parecia querer preencher os meus períodos livres com os braços, as pernas e a boca. Eu não estou acostumada com isso, mas não me esquivei. Apreciei o interesse e o cuidado e observei as sensações que surgiam com isso, como se fosse algo precioso e raro. Sim, esse cara era perigoso. Um grandessíssimo perigo pras minhas convicções inabaláveis. Mas eu estava ali sustentando o peso da minha escolha em conhecê-lo. A minha porta estava aberta para ele. Numa conquista, eu ativo o hiper foco. Não foi diferente com ele. Então eu o vi sair do meu chuveiro e depois sair da minha casa. O meu dia se seguiu muito extenuado. Pela graça do tempo, que nunca dá uma trégua, o dia de sexta passou e eu precisei dispensar o nosso encontro meticulosamente planejado horas antes. Eu precisava desesperadamente dormir e fui pra cama muito cedo. E então nos repetimos no dia seguinte.


Lá estava ele de novo: alto, lindo, brincando com as covinhas do meu sorriso, me deixando massagear seus braços e mãos grandes. E foi perfeito quando percebemos muitos pontos em comum, na vida e nos desejos. Me surpreendi ao constatar que até então eu não tinha pensado no próximo. Em geral, os meus amores terminam nesse ápice do encontro dos corpos. E o dia que vem depois traz junto novas ânsias pra experimentar. Pensei que seria bom ver até onde isso ia nos levar. Ele continuava se mostrando muito interessado em tudo. Abria meus armários procurando açúcar. Queria provar que ninguém é capaz de viver sem açúcar em casa! Escolheu um deck de cartas pra eu ler o Tarô pra ele. Queria queimar cada um dos meus incensos pra conhecer os cheiros que eu gosto. Fez perguntas sobre o budismo e queria aprender meditação. Ouviu a minha playlist favorita fazendo comentários lisonjeiros. De onde esse homem tinha saído?


No terceiro encontro, por alguma razão que eu desconheço, abordei o tema das relações líquidas com ele. Essa conversa deveria ser algo leve e aberto como todo o resto, mas tomou um rumo inesperado. Eu ainda não consegui processar com certeza o que foi que aconteceu, mas ele não gostou de compreender que eu não tinha a intenção de torná-lo único. E se sentiu ofendido, porque pensou que havia deixado claro que desejava a exclusividade. Essa conversa foi muito dura pra mim. Ele me olhou nos olhos pra dizer que eu sou uma predadora. Disse que eu não ligo pros sentimentos das pessoas e que ele, assim como todos os demais são apenas números contabilizados na minha cadernetinha. Eu lamentei que as coisas tenham tomado esse rumo, mas ele nunca, em momento algum foi enganado. Eu lamentei tanto que ele tenha se sentido assim usado. Porque em verdade não foi. Ele não quis ouvir mais sobre como eu o sentia perigoso e o quanto eu queria explorar essa nova sensação que ele estava produzindo no meu corpo e íntimo. Ele não compreendeu a minha necessidade pela exploração livre. Queria tudo para si: corpo, alma, pensamentos, atenção. Eu até poderia oferecer a devoção que ele desejava, mas não seria assim tão rápido.


Fico pensando que bênção esse senhorzinho ter se mostrado tão rapidamente, ter colocado a cabeça pra dentro do meu templo, olhado ao redor e ter decidido que ali não era o seu lugar. Porque se ele tivesse tido mais paciência, se ele tivesse simplesmente resolvido sozinho que iria me mudar, me moldar ou que iria aguardar pra ver como eu ia me comportar... inevitavelmente estaríamos fadados a termos nossos corações partidos. Achei que ele foi bastante superficial na sua avaliação a meu respeito e um tanto cruel em se referir a mim como uma predadora. Eu não estou colecionando pessoas, eu coleciono experiências e sensações, e isso eu posso conseguir com um corpo ou com muitos corpos, basta que os envolvidos alinhem as suas expectativas. Eu seria capaz de atender às dele? Nunca saberei. Poderia tentar, se quisesse, mas ele não chegou a fazer essa pergunta. Por outro lado, se eu tinha alguma dúvida sobre ele, ela já não existe mais e apesar de ter sido uma experiência difícil, serviu pra que eu continue feliz entre os garotos que só querem repertório e boas histórias para contar.


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Eu sou Lilith Sem Roteiros e vou compartilhar com vocês as minhas experiências, reflexões, encontros e descobertas nas minhas aventuras amorosas fluidas.

 
 
 

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