#7 O Estímulo e o Reflexo
- Roberta Fauth
- 15 de nov. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 18 de nov. de 2024

Essa história vai ficar ainda mais envolvente se for lida ao som dessa música aqui: https://open.spotify.com/intl-pt/track/0kXZrXlookNyBAja6S92B8?si=5ffbec92e5c74319
Ele me disse que eu sou mais interessante porque me acendo com diferentes estímulos e não necessariamente pelas "ferramentas" usadas. Pois é. Seria narcísico dizer que eu gosto de observar como o meu corpo reage aos estímulos que recebo e isso determina o quanto a minha experiência foi boa ou não?
Às vezes, fico me perguntando se o fato de ser tão atenta ao meu próprio corpo não me transforma em uma espécie de espectadora de mim mesma. E, no entanto, como não observar quando é ele, o meu corpo, que numa espécie de personificação de tudo o que é percebido como "eu", afasta a seriedade do cérebro e decide se algo é bom, digno, prazeroso, irresistível, ou se passa apenas como um acidente sem marca, algo que não vai deixar rastro? São as minhas células que reagem, isso é algo que já sei, mas a razão não deixa de se fazer presente. Eu quero estar inteira nesses momentos. E se for o caso, sentir, reagir e depois racionalizar. No fundo, a sensação que fica é a de que a experiência não é algo que se escreve apenas na mente, ela toca e permanece na pele.
Mas, como sempre, fico dividida entre uma espécie de encantamento com esse jogo de estímulos e algum nível de desconforto. Ao mesmo tempo que me sinto viva quando as ondas de sensações se misturam, fico com medo de ser, de fato, apenas isso: uma soma de reações automáticas, programadas por uma máquina complexa chamada corpo. Um corpo que é esperto demais para se deixar enganar por normas ou convenções. E será que ele tem razão? Ou será que, ao ouvir demais a ele, me perco em um espaço onde o controle se desfaz e o efêmero se torna absoluto?
Às vezes, até me pego em conversas com pessoas que têm uma relação um tanto mais racional mesmo quando em um contexto sexual. Elas falam sobre suas escolhas, decisões, estratégias... como se o corpo fosse apenas um acessório, um objeto secundário na jornada da mente. Me pergunto, então, se, ao me perder tanto nos meus próprios reflexos, não estou de fato ignorando as riquezas do intelecto, da razão.
O prazer não é só físico, certo? A beleza também se dá no entendimento, no fazer sentido. Eu diria até que há uma beleza quase estética em observar o modo como as escolhas nos conduzem. E a forma como sustentamos esse peso. Ao mesmo tempo, como não me encantar com a própria lógica do meu corpo? Como ele se alinha, como se ajusta, arrepia, contrai e relaxa – sempre em busca de mais, sempre pedindo mais, não por vaidade, mas por necessidade. É a impotência de não ser capaz de tornar aquela sensação permanente. Como não admirar o impulso, a energia, a forma como o meu corpo traduz o que a minha mente talvez não saiba expressar? E então vem a dúvida: será que me acostumei demais a me medir pelos estímulos, pelas sensações? Será que, ao me fascinar tanto pelas minhas reações, acabei reduzindo a minha experiência a um jogo simples de causa e efeito? É presente a impressão de que sou uma espécie de reflexo em espelho, que se acende, se apaga, se refaz, tudo conforme o movimento do outro. O outro, aquele que ativa as chaves que me fazem funcionar, e ao mesmo tempo me tornam vulnerável, exposta e entregue.
É curioso como esse jogo de estímulos pode ser tão simultâneo, tão incansável, e ao mesmo tempo tão frágil. É aquele fogo que só existe por causa do vento, mas que cessa no momento em que o vento deixa de soprar. E no silêncio, o que resta? Resta a saudade daquilo que foi, a memória do exato momento, o reflexo do que aconteceu e o desejo de que, talvez, aconteça de novo (se não contigo, com o próximo). No fim, a resposta está no próprio movimento do corpo: não há como escapar daquilo que me faz sentir. A questão talvez seja, então, não saber se sou realmente prisioneira das reações que o meu corpo exige, mas aprender a navegar entre elas, sem que o jogo da sensualidade ou da gratificação imediata me torne reduzida a um mero reflexo das minhas vontades. E, quem sabe, ao dar nome a essa dança, entender que o mais interessante não é o estímulo em si, mas a maneira como ele me conduz e me transforma – mesmo quando acho que estou apenas sendo quem sou.
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Eu sou Lilith Sem Roteiros e vou compartilhar com vocês as minhas experiências, reflexões, encontros e descobertas nas minhas aventuras amorosas fluidas.



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