#9 O Toque da Presença
- Roberta Fauth
- 20 de nov. de 2024
- 5 min de leitura
Atualizado: 21 de nov. de 2024

Essa história vai ficar ainda mais envolvente se lida ao som dessa música aqui: https://open.spotify.com/intl-pt/track/1BEioZa6o8AVDmOh5Sc86j?si=e9279318d702449e
Nesse momento, eu me sinto em construção. Tem muitas coisas sobre mim que aprendi só esse ano, e a maioria delas com toda certeza eu aprendi nos últimos 6 meses. Tenho uma percepção ousada em pensar que todas as pessoas que cruzaram o meu caminho formam, juntas, um campo vasto e fértil de exploração dos meus próprios reflexos. Há algumas semanas eu tive algumas demonstrações de como as coisas reverberam no meu corpo e mente. Tem um menino, desses que compõem o meu círculo de amizades coloridas, que possui uma imagem bruta, uma personalidade alfa em tudo o que faz, dos gestos à fala, um sorriso belíssimo e uma voz grave irresistível. Quando ele fala, é claramente assertivo. Não é tosco, apenas direto. Esse tipo de fala me agrada e atrai nele. Parece alguém que não vai deixar nada pra depois, nada mal resolvido, nada mal falado e nem mal entendido. Ele fala e ele escuta. Nada me encantaria mais do que uma escuta atenta e ativa. Não sei se ele tem consciência de ser assim, mas é uma das melhores qualidades que eu já li em alguém. E nesse aspecto eu o admiro e gostaria de ser assim, tão direta quanto ele.
Não é muito alto. Acredito que ele tenha, no máximo, 1,80m. Uma barba cerrada, o que acentua as linhas do seu rosto anguloso. Ostenta um escapulário de São Jorge, nenhum brinco, pulseira de couro marrom e uma pulseira prateada. Os olhos castanhos com um brilho inquieto, sempre atentos, como se buscassem algo além do que está ao alcance, os cabelos ondulados, castanhos, frequentemente desalinhados, mas de um jeito que parece intencional. Quando ele vem até mim, a primeira coisa que faço é bagunçar esse cabelo de ondas. Ele acha graça, eu acho sexy. Não é apenas um cara bonito; a sua presença tem um magnetismo natural. Ele é daqueles que conquista com o sorriso ou com uma palavra dita no tom da gravidade da voz de um homem irresistível. Ele reconhece esses detalhes marcantes em si e os usa de maneira cirúrgica. Ele sabe que eu gosto de observa-lo, e me delicia com visões privilegiadas no meio de tardes ocupadas.
Ele é um cara normal. Mas o ambiente em que ele vive é tomado por expectativas bastante altas, pressões pra se manter entre os melhores e a complexidade de liderar uma equipe, o que faz do seu trabalho o seu refúgio e a sua prisão. O seu envolvimento comigo não é apenas carnal; diferentemente de outras mulheres, eu não estou aqui para moldá-lo. Não quero aprovar ou reprovar as suas escolhas, não quero que ele tente alguma coisa. Ele sabe disso, e sempre que vem, eu percebo que é para escapar do peso das suas responsabilidades. Em mim ele encontra um tipo de segurança e liberdade que contrastam com sua rotina caótica. Quando nos vemos, ele claramente busca momentos de leveza, onde não precisa provar nada e nem ser aquele que lidera, embora não me deixe experimentar com ele novas formas de se relacionar. Ele é obcecado pelos detalhes, por isso pra ele, os acabamentos são importantes, o cheiro é importante. O sabor é importante e a textura é importante. Nesses momentos, ele só quer ser um cara normal e busca nos meus detalhes a dose de anestesia de que ele precisa para equilibrar com a vida que carrega todo dia.
Eu, dez anos mais velha que ele, sei muito bem o peso que a minha presença tem. Eu carrego comigo uma confiança serena que ele desejaria para si, o desconcerta e o atrai. A minha bagagem de inteligência emocional me faz observar além da superfície inquieta desses olhos castanhos, e sou capaz de captar o que ele tenta esconder até de si mesmo. Esse domínio sobre mim mesma me torna para ele uma figura quase hipnótica. Ele acha estranho como eu posso ser assim tão segura e ao mesmo tempo me colocar curiosa com olhar de aprendiz, enquanto ele me conta como funciona a sua dura rotina de gerenciar 25 pessoas com backgrounds tão heterogêneos. Numa dessas conversas sobre a habilidade dele com a fala, eu o convidei para uma mesa de Tarô. Foi a desculpa perfeita para um momento de intimidade que fugisse ao óbvio. Ele embaralhou as cartas achando graça. Com uma delicadeza ritualística, eu abri o meu baralho pra ele. E com um sorriso tranquilo, li o que vinha das ilustrações, números e signos enquanto segurava meu olhar, firme, como quem está recebendo mensagens pra além dos símbolos nas cartas. Eu disse a ele sobre os seus conflitos internos, sugeri caminhos truncados e a necessidade de enfrentar umas sombras. Eu disse a ele essas coisas com os detalhes que achei valiosos para o momento. Eu falei de uma maneira que foi totalmente inspirada nele. Ele me ouviu calado, estava desconfortável, e não conseguiu disfarçar a curiosidade e a sensação de ser decifrado. No final, disse que sentiu como se eu tivesse observado as vivências dele de longe, como a um filme projetado no cinema.
Enquanto ele me ouvia interpretar as cartas, percebi que a minha voz soava diferente. Havia algo de novo ali, uma precisão que eu ainda não tinha explorado por completo. Por um instante parei e percebi que ele, com sua habilidade quase instintiva de lidar com pessoas, me ensinou sem querer sobre o poder de uma fala direta e impessoal. Ele, que precisava ser claro e objetivo para coordenar vinte e cinco pessoas tão distintas, me fez notar como as palavras certas, ditas no momento certo, podem criar uma ponte de compreensão e impacto. E foi exatamente isso que usei com ele naquele momento. Escolhi cada frase com cuidado, deixando espaço para que ele pudesse refletir e sentir, sem me impor, mas deixando claro que havia algo valioso ali para ele considerar. Era como se, ao usar as palavras que ele mesmo me inspirou a encontrar, eu o fizesse ver que ele também tinha ferramentas para enfrentar suas próprias sombras.
Uma semana se passou em silêncio desde a nossa mesa de Tarô. Então recebi uma ligação dele, muito carinhoso, mas sem declarações grandiosas (que não somos dados a isso), e me convidou para um jantar na sua casa. Quando cheguei lá, eu mal cumprimentei o meu anfitrião, que estava usando apenas um short e o escapulário. Estava descalço e sorrindo. Fui tomada por ele nos braços, ele me levou a uma suíte, onde havia uma banheira cuja água estava quente e cheia de espuma. "Hoje sou eu que vou te oferecer algo". Ele tirou a minha roupa peça por peça, massageando e beijando as minhas costas e braços. Entrei na água que estava simplesmente maravilhosa e tinha um cheiro delicado de patchoully. Ele pensou em tudo, preparou uma música ambiente, e naquela noite, antes do jantar, ele literalmente me deu um banho enquanto me contava a sua história. A história da vida dele mesmo, a que eu ainda não conhecia através das palavras cirúrgicas que ele usava. Percebi que o Tarô tinha remexido algumas coisas escondidas debaixo dos tapetes dele. O sexo daquela noite foi muito mais intenso do que das outras vezes que estivemos juntos, e ele me permitiu algumas excentricidades. Entendi que finalmente eu tinha sido convidada a entrar. E o nosso lance de ficar um do lado do outro se baseia na simples escolha de estar. Chegamos nesse ponto da liberdade que ele tanto busca e que eu já aprendi a abraçar há muito tempo. Eu não o quero meu, tampouco desejo que ele me chame "minha". E assim, enquanto for bom, ele vai fazer parte do que me constrói, dentro ou fora dos meus contextos não convencionais.
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Eu sou Lilith Sem Roteiros e vou compartilhar com vocês as minhas experiências, reflexões, encontros e descobertas nas minhas aventuras amorosas fluidas.



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