#3 O Meu Estranho e a Dança do Efêmero
- Roberta Fauth
- 4 de nov. de 2024
- 4 min de leitura
Atualizado: 13 de jan.

*Essa história fica muito mais envolvente se lida ao som dessa música aqui: https://open.spotify.com/intl-pt/track/0cQVqPuHQP4KEwc7ZUQmj6?si=15d3a76e9b73454b
Temos uma miríade de aplicativos de relacionamentos ao nosso dispor. Eu escolhi um que julguei ser o mais aberto, com menos tabus, com maior probabilidade de encontros reais. Me conectei com esse garoto que não exatamente estava atrás da mesma coisa que eu, mas soube entrar no meu jogo e topou um encontro às escuras. Com isso eu quero dizer que tivemos, um do outro, um nome, uma idade e um endereço – o endereço do meu território. Ele perguntou se eu não tinha medo de receber um completo estranho em casa. Eu rebati que gosto da ideia do risco que um desconhecido traz. E gosto mesmo, é verdade. Por vários motivos, eu não deveria me colocar nessa situação. Sabendo muito bem disso, assumi que desejava o risco de experimentar e ele, nesse momento, estava ocupando a posição de 1º da fila.
Eu aprendi (na prática) que, para esse tipo de encontro ter a sua carga de emoção potencializada, não é possível deixar as opções em aberto e ficar cozinhando vários caras. É necessária uma boa dose de dedicação, gastar um tempo pensando nos detalhes, no que eu quero oferecer em termos de prazer, e aqui temos alguns elementos egoístas: pelo que eu vou me tornar uma história inesquecível? Ele tinha 100% da minha atenção focada nele. Nos dias que antecederam essa história, nos falamos freneticamente, estava obcecada pelas respostas, visualizações e fotos picantes que compartilhamos. Eu sabia apenas o necessário pra me deixar ávida por descobrir o cheiro, o gosto e a textura. Essa foi outra descoberta sobre mim que eu pretendo desenvolver e aprimorar: prazeres sensoriais. Ver o outro se derretendo me ganha. Quanto mais eu proporcionar, quanto mais envolvida a minha presa está, quanto mais provocado em seus instintos mais primitivos, quanto mais impulsos eles obedecem, mais eu entro num estado orgástico. Esse "estado orgástico" consiste em manter a sensação do orgasmo pelo maior tempo possível ao longo da interação. Não sei se existem estudos ou teorias a respeito disso, mas eu sou capaz de perseguir e encontrar um orgasmo longo, tenso, profundo.
Eu sempre adorei essa atração pelo incerto, esse ímã silencioso que me leva a lugares improváveis e pessoas imprevisíveis. Naquela tarde, era ele, o meu desconhecido. Abri a porta. Trinta e poucos anos, um pouco de timidez escondida por trás de uma aparente autoconfiança. As fotos me enganaram, porque ele, era definitivamente muito mais bonito pessoalmente e com toda certeza o tipo de homem com quem eu flertaria em qualquer lugar público. Olhei direta e quase agressiva, capturando o brilho inquieto nos olhos dele. Puxei diretamente para mim. “Oi, estranho”. Fechei a porta e o beijo encaixou lento, molhado e muito quente. Toda tensão que criamos nos últimos dias explodiu sem produzir um único som. Ele me virou e prensou a minha barriga contra a porta. Ficou se esfregando na minha bunda enquanto mordeu o meu pescoço. Parecia um gato, mas tinha uma respiração hesitante e estava nitidamente trêmulo. O charme da juventude é essa espécie de ingenuidade destemida, que flerta com a ideia do perigo sem saber ao certo até onde quer chegar. Enquanto ele tentava manter o controle da situação, eu sentia a curiosidade latente por baixo daquela camada de receios.
No quarto, a luz do sol amarelada entrava e escorria pelas paredes, desenhando sombras no corpo dele, que contrastavam com a pele quente, cheirando a algo fresco e salgado, misturado ao suor que começava a surgir nas laterais do pescoço. Ele estava nervoso, excitado e atento. Eu fiz questão de deixar que ele sentisse o peso da minha presença sem que precisasse tocá-lo de novo. Fiquei um tempo avaliando aquela visão e percebendo as minhas próprias reações. Ele segurou o ar, veio até mim e, me olhando diretamente nos olhos, parecia querer confirmar o que eu estava sentindo. Era incrível como o olho dele brilhava. Um castanho muito claro, com uma borda esverdeada. Passou o braço pela minha cintura e senti que ele ainda estava trêmulo e apesar disso, não tirou seu olho do meu. Esse é o momento exato que eu gosto de capturar – quando uma pessoa sente o peso do possível, mas não sabe se consegue sustentá-lo. Deslizei os dedos pelo pescoço dele, a pulsação rápida sob minha mão, enquanto o corpo dele reagia de um jeito tensionado e voraz. Ele tentava se manter seguro, tentava esconder o impacto que sentia, mas o tremor leve no seu corpo o entregava muito. "Renda-se, Estranho. Eu posso e quero te guiar aqui". Ele estava se entregando, e ali ele se percebeu todo meu.
Ao longo daquela tarde, o quarto foi invadido pelos nossos sussurros, nossas confissões e risos que não comprometeram o combinado anonimato. Tudo isso entrecortado pelo desejo. Ele me seguia com uma entrega que eu sabia que vinha de um lugar que pra ele era novo, pouco explorado. Do meu lado, experimentei ser a sua guia, sua rainha, sua divindade da manifestação de todo prazer sensorial desejável entre aquelas 4 paredes. Eu soube que ele estava me deixando conduzi-lo sem entender exatamente o porquê – mas desejando, talvez pela primeira vez, renunciar às certezas e se deixar levar por uma mulher mais experiente. Ele perdeu o medo de parecer desinteressante. Ele estava muito mais interessado, já não queria ser impressionante.
O nosso tempo juntos passou impiedoso, e trouxe de volta o peso da consciência. Quando ele se levantou, evitava me encarar diretamente, e eu soube no toque definitivo naquele último beijo rápido: entendi que ele também já sabia que não voltaria. Experiências intensas tendem a ser assim: para alguns, são revelações; para outros, limites que não se deseja cruzar duas vezes. Enquanto eu o observava ir embora, sentia o eco de uma satisfação muda, ciente de que aquela experiência provavelmente reverberaria nele por um bom tempo. Ele saiu da minha vida com a mesma rapidez com que entrou, mas deixou em mim a confirmação de que há encontros que são para sempre, mesmo que não durem mais do que uma tarde. Para ele, talvez eu tenha sido o susto de algo que ele preferia admirar à distância. Nunca vou saber, mas eu prefiro pensar que nessa tarde eu dei a ele uma história inesquecível para contar. E assim vi o claro espaço que se abriu para uma próxima aventura.
---
Eu sou Lilith Sem Roteiros e vou compartilhar com vocês as minhas experiências, reflexões, encontros e descobertas nas minhas aventuras amorosas fluidas.



"Ele perdeu o medo de parecer desinteressante. Ele estava muito mais interessado, já não queria ser impressionante." adorei essa frase.