#2 Um Jogo de Sorrisos, Intenções e Desafios
- Roberta Fauth
- 3 de nov. de 2024
- 4 min de leitura
Atualizado: 27 de jan.

Essa leitura será ainda mais envolvente se lida ao som desta música aqui: https://open.spotify.com/intl-pt/track/5NXlNDIQ6kVnwcr8A8MrLw?si=19c4b26891a94dbe
Depois das minhas férias que hoje eu tenho chamado de "divisor de águas", as mudanças precisam tomar contornos ainda mais nítidos. Os encontros com homens mais novos é a primeira resolução do ano novo astrológico! Enquanto cuido das outras Robertas que pretendo ressuscitar, encontrei outro aplicativo que parece fitar melhor com o meu desejo por liquidez amorosa. Encontrei um moço que me pareceu uma mesa farta onde me deleitar. Ele chega com um sorriso descontraído e um perfume que diz mais do que as palavras iniciais. Tem dez anos a menos que eu, e, para variar, parece o típico tipo que gosta de explorar territórios desconhecidos. Se mostra como uma combinação que eu gosto e conheço: a elevada autoestima do homem heteronormativo com um toque de insegurança, misturados naquele equilíbrio que só a juventude ousa desfilar. Entendi que ele queria algo emocionante. Eu sei que tenho repertório para oferecer, mas sempre há algo a mais para descobrir nesses encontros fugazes.
No início, senti que ele estava tentando validar a conversa online que tivemos nos dias que antecederam esse delicioso encontro. É por isso que afinal eu gosto de começar dessa forma: deixei que ele falasse. Aquele discurso ensaiado, cheio de intenções. Ele quer ser impressionante. Ele quer ser adorado. Percebi que ele gostava da ideia de pensar que havia me conquistado, mal sabendo que ali, quem estabelecia o ritmo era eu (mas aqui, bem nesse ponto, de alguma forma, eu admito, ele me conectou). Eu amo observar como eles se comportam quando se veem diante de alguém que sabe exatamente o que quer. E, nesse encontro eu percebi, o que eu quero é justamente essa entrega gradual, esse desarmar das pretensões. Chamem de jogo, se quiserem. Eu chamo de arte.
Sempre tem o lado arriscado. Viver na superfície, onde tudo pode escorrer, exige certa leveza, é quase como uma dança. Vivemos numa era de amores líquidos, onde todos estão sempre prontos para escapar na menor distração, uma palavra fora do tom, um medo aterrorizante de estar vulnerável. As relações são elásticas, maleáveis, mas quebradiças. Assim como aquele sorriso, que agora é metade genuíno, metade um convite velado. Eu, por minha vez, ouso jogar com todas as cartas na mesa. Sou intensa e gosto de sentir que o meu parceiro está seduzido pelas possibilidades. E foi por isso que esse sorriso rendeu o convite explícito que eu fiz no segundo seguinte. Iniciamos uma conversa densa, com olho no olho e informações. Inclinado às tendências dominadoras, levou a conversa para o lado dos meus limites. O que eu gosto, o que eu não gosto. O negociável e o impraticável. Tentei responder da maneira mais objetiva possível, e enquanto fazia isso observava como me sentia com esse desejo sendo despertado assim, tão sério e atento. O garoto deu lugar a um homem que eu ainda não tinha identificado nem na conversa online, nem no sorriso malicioso - e eu comecei a lidar com o fato de que a entrega gradual e a baixa da guarda dessa vez, seria minha.
As relações D/S* tem dessas coisas. Negociações sérias e combinados extremos. Quando a porta se fecha, não tem ninguém te esperando lá fora. Ninguém pra te salvar, a não ser a sua lista: limites, desejos, desafios pessoais. Nesse encontro, uma explosão de novas descobertas emergiu de um lugar tão fundo em mim, que caso precisasse, não saberia dizer onde fica. Esse garoto me mostrou o quanto a temperatura do corpo importa para que eu fique excitada. E como se isso não fosse suficiente, o quanto a intensidade e pressão do toque que ele imprime acendem ou desligam os meus instintos sexuais. E tendo experimentado esses efeitos, rapidamente me vi engajada em atividades servis e fascinantes pra que essas sensações fossem ativadas de novo e de novo. Perseguindo essas recompensas, para ele eu estendi as mãos em rendição. Não tivemos sexo propriamente dito nessa interação. Ele me deu todo tipo de estímulo sensorial, me deu orgasmos, me deu elementos pra entender como eu mesma funciono. Ele não me penetrou em nenhum momento dessa interação. Pelo menos não tive uma penetração fálica. Nesse dia eu descobri que tenho um botão ativado por mordidas. Eu não tinha ideia que gostava de mordidas ardidas. E em muitos momentos eu só queria que ele continuasse a morder a minha bunda. Podia inclusive deixar marcas - eu desejei isso de forma ativa. As correntes elétricas que ficaram percorrendo o meu corpo reverberaram por um tempo, mesmo depois que terminamos o nosso jogo. No meu íntimo, eu mal podia esperar pela próxima vez que poderia encontrá-lo. Não seria tão simples, no entanto. Recebi instruções de que nos veríamos se, e somente se, ele me quisesse de novo. Isso me destruiu por 5 segundos.
No fim, minutos antes de eu me despedir, ele perguntou, com uma dose de seriedade que me surpreendeu, se eu procurava por algo duradouro. Sorri e devolvi a pergunta: "E você? É disso que você precisa agora?" Vi um instante de hesitação. Nesses encontros, eu busco essa tensão, essa dança entre o que querem mostrar e o que realmente sentem. Alguns resistem, outros mergulham. Se fosse duradouro em termos que eu fosse capaz de sustentar, eu não teria medo de embarcar. Mas ele também não entregou no que estava pensando.
Nós mantemos alguma frequência de contatos. Sim, ele me quis de novo. Tivemos um jogo psicológico estimulante, com algo em torno de meia dúzia de encontros que eu chamei de "iniciáticos". Hoje em dia, raramente nos falamos. Talvez, só talvez, ele reapareça. Esses encontros deixam sempre uma margem de mistério, uma brecha para o inesperado. No fundo, eu jogo com isso: a ideia de que, mesmo na era dos amores descartáveis, sempre resta alguma fagulha que teima em não se apagar. E com esse garoto, aprendi bem mais sobre mim do que sobre os desejos dos homens mais jovens.
---
*Uma relação D/S é um tipo de interação que pode ou não ser sexual e se caracteriza por uma forte assimetria de poder entre os envolvidos. Nestas relações, uma pessoa detém o poder e deve ser respeitada, obedecida e venerada, enquanto a outra é obediente e servil.
---
Eu sou Lilith Sem Roteiros e vou compartilhar com vocês as minhas experiências, reflexões, encontros e descobertas nas minhas aventuras amorosas fluidas.



Comentários