#5 Uma Paixão de 10 Dias
- Roberta Fauth
- 7 de nov. de 2024
- 5 min de leitura
Atualizado: 18 de nov. de 2024

Essa história vai ficar ainda mais envolvente se você ler ao som dessa música aqui: https://open.spotify.com/track/2twwV8BMerFcRZ1fSEOuF1?si=gYf59PPaT7aDHI_Rn5Lrsg
Foi um quase amor,
de faísca e braços quentes,
um toque imenso que cabia em noites curtas,
promessas murmuradas, reticentes.
Um desejo que dançava entre o “fica”
e o instante de nos perdermos novamente.
(Lilith Sem Roteiros)
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Às vezes você vai precisar aceitar terminar uma (quase) relação que tem muito beijo na boca, sexo quente, química boa, faísca, terremoto, frio na barriga, bochecha rosada, e ainda assim... não é o suficiente.
Eu posso dizer que tive a sorte de me apaixonar por 10 dias. Ufa! Essa foi uma dessas situações inusitadas aonde ele chega tão veloz, te arrebata e te suga para uma dimensão paralela, onde tudo fica mais sensível, mais intenso, e as palavras parecem sempre prestes a se dissolver. É muito difícil obter a percepção do que ele quer, se é que ele sabe o que ele quer. Na verdade, eu não estava nem tentando descobrir o que ele queria. Eu só queria que ele me quisesse. O efeito de desorientação que ele deixou na minha mente era tão evidente, hoje eu posso dizer que foi um período em que estive ausente. Estava sim, muito burra. Não que se apaixonar não seja de todo bom, mas é preciso ser intencional sobre isso. Então vamos combinar que, se eu sei o que eu NÃO quero, é me apaixonar. Desde o primeiro instante, a gente se comunicava sem necessidade de muita explicação, como se bastasse um sorriso ou um olhar, sabíamos o que o outro estava pensando e era fácil acreditar que ali existia alguma verdade. No mais simples, o abraço, havia uma troca quase ritual, onde a carne, o calor e a química se encaixavam e entendiam. Era fácil, fácil demais.
Em 10 dias, nos vimos por 8 dias em sequência. Ele vinha como quem não quer muito, mas quer profundamente. Os gestos dele tinham sim uma espécie de hesitação, como se estivesse sempre atento para não atravessar a fronteira da entrega total. Em condições normais de temperatura e pressão, eu estaria observando e percebendo o nível de entrega dele, modulando a minha também. Mas eu já disse a vocês, não é? Eu não estava presente nessa relação. No beijo, ele revelava desejo, mas segurava algo nas entrelinhas. Eu sentia isso, mas queria encarar diretamente? Não. Eu só queria que ele me quisesse. Ele parecia estar presente, mas nunca por inteiro. E talvez fosse essa lacuna, esse desencontro de intenções, que tornava tudo ainda mais visceral. Quem esse garoto pensa que é para me fazer sentir assim, desejando tão ardentemente estar na calçada da vulnerabilidade? E desse jeito eu escorreguei no erro de “tentar”. Eu comecei a tentar fazer com que ele se conectasse ao meu gancho. Eu tentei mostrar o quão profundo é o meu lago. Eu tentei convencê-lo de que era seguro mergulhar nessas águas.
(Abra-se um imenso parêntese) Eu quero trazer uma reflexão sobre autenticidade e esforço, e preciso dizer por que eu considero esse "tentar" um erro mortal: é porque se existe a necessidade de realizar "tentativas" de ser ou alcançar algo, tem alguma coisa errada. Quando se fala em "tentar ser ou se tornar alguma coisa", tem aqui nessa expressão uma carga de sugestão forçada demais, uma distância entre o que a pessoa é e o que ela quer parecer ou alcançar. Se esse "tentar" existe, ele denuncia uma lacuna fundamental: talvez a natureza ou a essência desse "algo" simplesmente não ressoe com quem a pessoa realmente é. A busca acaba sendo vazia, pois a energia gasta é de manutenção de uma imagem ou papel que não possui raízes genuínas. Então vejam em que lugar eu me coloquei... O "tentar", dentro de relações líquidas e fluidas é muito perigoso porque inevitavelmente vai levar a um desgaste emocional profundo. A insistência em se moldar para atender a uma expectativa — seja própria, seja alheia — frequentemente se choca com a realidade de que algumas coisas não podem ser fabricadas. (Cerre-se o imenso parêntese).
Em 10 dias nos vimos por 8 dias em sequência. E aí não nos vimos em um dia. E a iluminação que veio para mim quando estive fora do efeito dessa loucura de ficar tentando coisas para que ele se descobrisse tão apaixonado quanto eu, veio com o espelho. Fazendo meus rituais noturnos de me cuidar, meus olhos ficaram, por dois segundos fixos nos meus olhos do espelho. E foi o suficiente pra eu me perguntar o que eu estava fazendo. O que nós estávamos fazendo ali? Por que eu estava tentando, por que a gente estava persistindo? Congelei diante do espelho porque a resposta explodiu numa crise de choro frenético. Eu percebi que a nossa história era incrível, mas não era amorosa. E como eu estava apegada ao cortejo dele. Como eu me apeguei à emoção de ter um homem tão mais jovem aos meus pés. Essa emoção era lastro da mentira que eu contava a mim mesma, tá? Não era amor. Nunca seria. Estava claro que a intensidade dos nossos encontros mascarava a falta de uma base mais consistente.
O nono dia trouxe a verdade de como eu estava rodando em torno de um vazio central (que ficava bem no meu umbigo), um ponto de fuga que eu me esforçava para evitar encarar. Eu, tentando encontrar uma lógica onde não havia nenhuma. Ele, guardando coisas que eu nunca conseguiria acessar. Ele era um reflexo das minhas próprias incertezas. Talvez fosse por isso que eu seguia tentando conectar, tentando convencê-lo de que havia segurança no meu colo. Eu precisava provar que sabia o que estava fazendo. Mas eu deixei a paixão se instalar, e não convidei ele para vir comigo. Agora, olhando de fora, vejo como cada momento com ele fazia com que eu atravessasse as minhas próprias fronteiras e engajasse numa aventura mais interna do que externa. Percebo que essa relação era um convite para eu me encontrar no espelho e entender onde ainda me iludo com o que é amor e o que é só uma promessa de calor. Ele foi uma paixão, definitivamente sim. E aprendi algo precioso: às vezes, o suficiente não é sobre o que sentimos por alguém, mas sobre o que essa pessoa nos faz sentir por nós mesmos.
No décimo dia, ele chegou e parece que também tinha pensado. Só nos abraçamos, muito forte e por muito tempo (pareceu muito tempo para mim), afinal, era assim que a gente se comunicava. Não precisava falar. Bastava um sorriso, um olhar para entender. Hoje eu consigo compreender que eu não estava pronta para seguir nesse (quase) relacionamento; eu não queria mais, mas certamente, se fosse para estar me relacionando com alguém, eu mereço (muito) mais. Esse tipo de conexão assim tão violentamente intensa precisa ficar onde nasce: no encanto do instante. E que, por mais atraente, desejável, irresistível que seja alguém, o que me completa não pode ser uma tentativa e muito menos um quase. Felizmente abandonei esse vazio, e um pouco mais leve, sei que a paixão que vale à pena é uma face do amor que também me enxerga por inteiro e convida, clara e verbalmente, a entrar nessa casa e ali fazer morada.
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Eu sou Lilith Sem Roteiros e vou compartilhar com vocês as minhas experiências, reflexões, encontros e descobertas nas minhas aventuras amorosas fluidas.



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